Poemas | Ian Curtis 26/06/2020 - 13:17
Seleção e tradução: André Caramuru Aubert
EXERCISE ONE (1978)
When you’re looking at life
In a strange new room
Maybe drowning soon
Is this the start of it all?
Turn on your TV
Turn down your pulse
Turn away from it all
It’s all getting too much.
When you’re looking at life
Deciphering scars
Just who fooled who
Sit still in their cars
The lights look bright
When you reach outside
Time for one last ride
Before the end of it all.
EXERCÍCIO UM
Quando você olha para a vida
Num quarto que não conhece
Talvez prestes a se afogar
Será isso o começo de tudo?
Ligue sua TV
Desligue sua pulsação
Desligue-se de tudo
Está tudo ficando demais.
Quando você olha para a vida
Decifrando cicatrizes
Apenas quem enganou quem
Sentados em seus carros, imóveis
As luzes parecem brilhar
E quando você chega lá fora
Há tempo para uma última volta
Antes que tudo isso termine.
NEW DAWN FADES (1979)
A change of speed, a change of style
A change of scene, with no regrets
A chance to watch, admire the distance
Still occupied, though you forget
Different colours, different shades
Over each mistakes were made
I took the blame
Directionless so plain to see
A loaded gun won’t set you free
So you say
We’ll share a drink and step outside
An angry voice and one who cried
“We’ll give you everything and more
The strain’s too much, can’t take much more”.
Oh, I’ve walked on water, run through fire
Can’t seem to feel it any more
It was me, waiting for me
Hoping for something more
Me, seeing me this time, hoping for something else.
A AURORA DESVANECE
Mudança de velocidade, mudança de estilo
Mudança de cena, sem arrependimento
Uma chance de olhar, de admirar a distância
Ainda ocupado, você se esquece
Das diferentes cores, das diferentes sombras
Sobre as quais os erros foram cometidos
Eu assumi a culpa
Sem rumo, tão fácil de ver
Um revólver carregado não te libertará
Assim você diz
Beberemos juntos e iremos lá pra fora
Uma voz irritada e uma outra que berrou
“Te daremos tudo e ainda mais
É muito esforço, não vai aguentar muito mais.”
Oh, eu caminhei sobre a água, eu corri sobre o fogo
Não parece que possa mais sentir isso
Era eu, esperando por mim
Ansiando por algo mais
Eu, olhando para mim nesses tempos, ansiando por algo mais.
INTERZONE (1978)
I walked through the city limits
Someone talked me in to do it
Attracted by some force within it
Had to close my eyes to get close to it
Around a corner where a prophet lay
Saw the place where she’d a room to stay
A wire fence where the children played
Saw the bed where the body lay
And I was looking for a friend of mine
And I had no time to waste
Yeah, looking for some friends of mine
The cars screeched hear the sound on dust
Heard a noise just a car outside
Metallic blue turned red with rust
Pulled in close by the building’s side
In a group all forgotten youth
Had to think, collect my senses now
Are turned on to a knife edged view
Find some places where my friends don’t know
And I was looking for a friend of mine…
Down the dark streets, the houses looked the same
Getting darker now, faces look the same
And I walked round and round
No stomach, torn apart
Nail me to a train, had to think again
Trying to find a clue, trying to find a way to get out!
Trying to move away, had to move away and keep out
Four, twelve windows, ten in a row
Behind a wall, well I looked down low
The lights shined like a neon show
Inserted deep felt a warmer glow
No place to stop, no place to go
No time to lose, had to keep on going
I guess they died some time ago
I guess they died some time ago
And I was looking for a friend of mine…
INTERZONA
Caminhei até as bordas da cidade
Porque alguém me convenceu
Atraído por alguma força que havia ali
Precisei fechar os olhos e me aproximei
Virando a esquina onde estava um profeta
Vi o lugar onde ela tinha um quarto
Um alambrado onde crianças brincavam
Vi a cama onde o estava o corpo
E eu estava procurando por um amigo meu
E eu não tinha tempo a perder
Sim, procurando por alguns amigos meus
Os carros soltavam guinchos, eu ouvia o som na poeira
Ouvi um barulho e era só um carro lá fora
Azul metálico, que ficou vermelho com a ferrugem
Levado para junto da lateral do prédio
Numa turma, todos os jovens que foram esquecidos
Eu precisava pensar, organizar os meus sentidos,
Afiados como o fio de uma faca
Encontrar lugares que meus amigos não conhecem
E eu estava procurando por um amigo meu...
Descendo as ruas escuras, as casas pareciam iguais
E agora, escurecendo, os rostos parecem iguais
E eu dei voltas e mais voltas
Sem estômago, em pedaços
Me dependurei num trem, precisava pensar
Tentando encontrar uma pista, tentando dar um jeito de escapar!
Tentando ir embora, precisava sair e ficar longe
Quatro, doze janelas, dez em sequência
Atrás de uma parede, olhei bem para baixo
As luzes brilhavam como um show de neon
Bem lá dentro, senti um brilho cálido
Sem lugar pra ficar, sem ter pra onde ir
Sem tempo a perder, precisava seguir em frente
Eu acho que eles morreram há algum tempo
Eu acho que eles morreram há algum tempo
E eu estava procurando por um amigo meu...
THESE DAYS (1980)
Morning seems strange, almost out of place
Searched hard for you and your special ways
These days, these days
Spent all my time, learnt a killer’s art
Took threats and abuse till I’d learned the part.
Can you stay for these days?
These days, these days
Used outward deception to get away
Broken heart romance to make it pay
These days, these days
We’ll drift through it all, it’s the modern age
Take care of it all now these debts are paid
Can you stay for these days?
NESSES DIAS
A manhã está esquisita, meio deslocada
Dei duro atrás de você e de seu jeito diferente
Nesses dias, nesses dias
Gastei todo o meu tempo, aprendi a arte de matar,
Fui ameaçado e abusado até aprender
Você poderia ficar por uns dias?
Nesses dias, nesses dias
Usei fraudes lá de fora pra escapar
E um romance de coração partido pra pagar
Nesses dias, nesses dias
Vagaremos através disso tudo, é a época moderna
Cuidaremos de tudo, já pagamos por isso
Você poderia ficar por uns dias?
THE ETERNAL (1980)
Procession moves on, the shouting is over
Praise to the glory of loved ones now gone
Talking aloud as they sit round their tables
Scattering flowers washed down by the rain
Stood by the gate at the foot of the garden
Watching them pass like clouds in the sky
Try to cry out in the heat of the moment
Possessed by a fury that burns from inside.
Cry like a child, though these years make me older
With children my time is so wastefully spent
A burden to keep, though their inner communion
Accept like a curse an unlucky deal
Played by the gate at the foot of the garden
My view stretches out from the fence to the wall
No words could explain, no actions determine
Just watching the trees and the leaves as they fall.
O ETERNO
O cortejo segue, a gritaria acabou
Ficou pra trás o louvor à memória dos que se foram
Falam alto, conversam em volta das mesas
Flores espalhadas, varridas pela chuva
De pé junto ao portão da entrada do jardim
A observá-los, passando como nuvens no céu
Tentando chorar no calor do momento
Possuído por uma fúria que queima por dentro.
Choro como uma criança, ainda que estes anos tenham me envelhecido
Com crianças, meu tempo é tão desperdiçado
Um peso a carregar, ainda que suas íntimas comunhões
Aceito como uma maldição, como um acordo ruim
Entretido pelo portão da entrada do jardim
Minha visão se estica da cerca até o muro
Nenhuma palavra explicaria, nenhuma ação determinaria
Apenas olho as árvores e as folhas que caem.
IAN CURTIS (1956-1980), em seus 23 anos de vida, ficou conhecido como o letrista, vocalista e líder da banda inglesa Joy Division. Desde pequeno, foi poeta e leitor voraz. As letras de suas canções nasceram, na maior parte das vezes, como poemas.
ANDRÉ CARAMURU AUBERT é escritor, poeta e tradutor. É autor, entre outros, do romance Poesia Chinesa (2018) e dos versos de se / o que eu vi (2019).